Motoristas já pagam<br>para trabalhar nos TIR
Os motoristas do sector rodoviário de transporte de mercadorias e, em particular, os do transporte internacional (integrado no sistema TIR) «estão cada vez mais a pagar para trabalhar e a serem transformados pelas empresas e o Governo na “peça” mais barata do camião», denunciou a Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações, admitindo que possa ser utilizado o direito à greve, para que a situação seja alterada.
No transporte internacional rodoviário, «há motoristas que saem de Portugal, com a indicação de que vão estar no estrangeiro uma semana, e que acabam por ficar três semanas, sem que as empresas lhes entreguem qualquer valor monetário para pagamento das despesas», entre as quais está a alimentação. Nestes casos, protestou no dia 21 de Dezembro a Fectrans/CGTP-IN, em comunicado, as empresas não respeitam a obrigação de prestarem um adiantamento em dinheiro, suficiente para fazer face a todas as possíveis despesas que os motoristas tenham de efectuar com a viatura e consigo mesmos durante a viagem.
A federação afirma que, com este comportamento, as transportadoras «empurram os trabalhadores para dias e dias de alimentação insuficiente, havendo já alguns casos em que os motoristas têm de recorrer à solidariedade de outros, para não passarem fome».
Vítor Pereira, dirigente da federação, admitiu nesse dia aos jornalistas que esta desumanização do sector poderá resultar numa greve nacional e noutras formas de luta, com graves repercussões, para o que irá ser alertado o secretário de Estado dos Transportes.
Outros graves problemas dos motoristas do transporte rodoviário de mercadorias, sobretudo nas linhas internacionais, foram referidos numa conferência de imprensa, no Porto. A Fectrans destacou pressões para que os trabalhadores abdiquem do descanso. Hélder Borges, motorista, disse na conferência de imprensa que a forte concorrência faz com que um crescente número de transportadoras esteja a praticar salários-base baixos, completados com um pagamento em função dos quilómetros percorridos. Segundo a agência Lusa, garantiu mesmo que há empresas que não declaram esse pagamento adicional.
Pedro Nunes, outro dos motoristas que relataram o seu dia-a-dia laboral, afirmou que quem contesta imposições patronais deste tipo acaba na «jarra», com menos serviço e a fazer menos quilómetros.
Vítor Pereira salientou que este expediente gera a maior parte dos problemas com que se debatem os motoristas. Para receberem mais, têm que guiar mais horas seguidas do que deviam, pondo em risco a sua segurança e de outros utentes da estrada. Além de chegarem a conduzir 12 a 14 horas, os motoristas evitam ficar de baixa, porque o respectivo subsídio depende do salário-base. Também podem sofrer grandes penalizações no desemprego ou na reforma.